Sou inglesa… podemos falar na tua língua?

Ter o inglês como língua materna leva a que se possa comunicar com o mundo sem nenhum esforço adicional, pois não é preciso estudá-lo. Mas será isto uma vantagem ou uma limitação quando se tenta aprender outra língua? Graças ao testemunho de duas estudantes inglesas em Barcelona, podemos descobrir.

20130921 English students in Bcn 1, Emma and Dymphna © Private

Estás na Noruega, Itália ou Portugal. Entras numa loja e queres perguntar o preço de alguma coisa, mas não falas a língua local. Que fazer? Sem dúvida que o inglês é um idioma global que se usa para comunicar com o mundo, e quem nasce num país anglo-saxão tem a grande vantagem de não ter que o estudar… ou talvez a desvantagem? Emma Staples e Dymphna Murphy, duas estudantes britânicas de Erasmus em Barcelona, mostram-nos como ser poliglota é especialmente complicado quando todos falam contigo na tua língua materna.

“Ao chegar a Barcelona, surpreendeu-me verificar que, apesar de estar num país hispânico, todos os alunos de intercâmbio comunicam entre si em inglês”, comenta Emma, que chegou a Espanha em Setembro do ano passado. “Ao princípio esforcei-me por praticar o castelhano, mas eventualmente cedi e acabei a falar inglês com os outros”. Nesta situação encontram-se muitos britânicos e norte-americanos a viajar para o estrangeiro. “Ao princípio gostei de perceber toda a gente, mas reconheço que não foi a melhor maneira de me imergir no idioma”, conclui Dymphna.

Segundo os últimos dados da Comissão Europeia, correspondentes ao período 2011-2012, Espanha é um dos destinos de Erasmus mais requisitados. Dentro do ranking dos 100 institutos de Ensino Superior que mais estudantes deste tipo recebem, as quatro primeiras posições são universidades espanholas. No total, o país recebeu 39300 estudantes, isto contando apenas os que fizeram um intercâmbio de continuação de estudos, havendo ainda o movimento de pessoal docente e em Erasmus Estágio. Destes 2688 vêm do Reino Unido, sendo esta a quarta maior população de estudantes estrangeiros em Espanha, atrás de Itália, França e Alemanha.

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Ao contrário de Emma, que já está a aprender espanhol há 10 anos, Dymphna chegou a Barcelona um mês antes de começar as aulas para fazer um curso intensivo de língua que lhe permitisse estar ao nível do resto dos alunos. “Nunca tinha estudado uma língua estrangeira antes, e fui ingénua ao pensar que em duas semanas já ia saber a gramática básica que me permitiria expressar-me de uma maneira fácil com os outros”, confessa.

Diz-se que o espanhol não é uma língua difícil de aprender, porque as palavras se pronunciam tal e qual como estão escritas e a estrutura gramatical das frases é bastante flexível. Mesmo assim, Dymphna explica que “custou-me habituar ao ritmo a que falam as pessoas, às expressões coloquiais e alguns dialectos”, enquanto Emma admite que “enchi o meu quarto com post-its dos verbos irregulares, foi uma das coisas que me custou mais a memorizar”.

Em Inglaterra aprender línguas estrangeiras não se valoriza tanto nas escolas como estudar Ciências. Muitos alunos não o consideram uma disciplina essencial e não lhes é dada tanta importância como à Matemática, por exemplo. No caso de Emma, a sua escola oferecia francês, alemão e espanhol a partir dos 11 anos, e aos 14 os alunos podiam decidir continuar ou não: “foi então que me apercebi que queria aprender castelhano além do ensino obrigatório, e escolhi estudar Espanhol e História na Universidade de Liverpool”.

Ainda assim, a nível universitário as diferenças linguísticas entre países diminuem. De facto, dentro da Europa, após 26 anos de intercâmbios, 3 milhões de pessoas já realizaram uma estadia em Erasmus no estrangeiro. Além disso, para o próximo período 2014-2020 a Comissão Europeia planeia levar a cabo o Erasmus+, que pretende melhorar as relações entre instituições que realizam estes intercâmbios.

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Mas ainda além das questões linguísticas básicas e burocráticas, estas estudantes enfrentaram um duplo desafio intelectual ao ir para Barcelona, pois o catalão é a língua da Catalunha e é falado pela maior parte da população. Ambas se iniciaram neste idioma cheias de optimismo, mas nem tudo correu como esperado. “Quando comecei também a estudar catalão na universidade percebi que não conseguia manter o ritmo. Foi difícil. Na aula de castelhano saíam-me palavras em catalão e vice-versa. O professor chamava-me à atenção mas eu não me dava conta de que estava a misturar os idiomas, para mim eram todas palavras novas”, conta Dymphna, algo resignada. À Emma custou-lhe menos aprender catalão porque já tinha uma boa base de castelhano. Apesar do seu objectivo ser continuar a estudar catalão depois de chegar a um nível avançado de espanhol, já sabe construir frases básicas em ambas as línguas. “Se fosse viver aqui permanentemente pensaria em aprendê-lo mais seriamente, mas de momento estou contente com o nível que alcancei”.

Este esforço por progredir em ambas as línguas é especialmente notável. E, por exemplo, um problema curioso que os nativos da língua inglesa enfrentam ao aprender outras línguas é o de ir ao cinema, apesar dos filmes estarem dobrados na língua local do país onde se encontram, a boca dos actores move-se de maneira diferente e conseguem por vezes perceber o que dizem, o que os distrai. “Além disso, é sempre mais difícil fazer amigos que não são estrangeiros como tu, e é uma pena, considero-o outro problema. Por sorte a minha universidade oferece uma bolsa de intercâmbio linguístico que nos ajudou a fazer amizades com estudantes deste país”, explica Emma, que decidiu ir para Barcelona apesar dos seus amigos terem escolhido Alcalá de Henares, para poder estender o seu círculo de amigos e ser mais independente. “Às vezes os ingleses não se esforçam em aprender outros idiomas por arrogância. Quer dizer, alguns britânicos acham que toda a gente fala inglês, e por isso não precisam de aprender outras línguas. Mas isso não é motivo para pensar que somos todos iguais”, diz. Dymphna e Emma são sem dúvida um bom exemplo de como apesar das adversidades, a força de vontade é o maior incentivo no que toca a aprender outra língua.

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Autor

Miriam Vázquez (Espanha)

Estuda: Jornalismo e Ciências Políticas & Administrativas.

Fala: Espanhol, Catalão, Inglês, um pouco de Francês e Alemão.

A Europa é… o único lugar onde pessoas de diferentes culturas, línguas e pontos de vistas convivem juntas.

Twitter: @mirabroad

Tradutor

Mariana de Araújo (Portugal)

Estuda : Física teórica

Fala : Português e inglês

Tradutor

Margarida Catela

 

Author: Anja

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